quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os limites da diferença


Nus e ingénuos
Nos confins do Éden
Os olhares interpelam o nascimento
De uma possível utopia:

Um Mundo pós-genocídio
Onde finda o preconceito
E as desonras de que é feito;

Uma pangeia formada
Não pela força do elemento
Mas moldada de vontade humana.

Assim da lua de avistavam
Os limites da diferença
Quebrados na irreverência
Que embala a liberdade.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Chaga


Entre a gente perdida
Apressada nos tempos e vendavais,
Aqui vem mais um:

Sujeito indefinido
Preso no pretérito mais-que-perfeito
Irreconhecível de si,
(A chaga é o futuro).


Caos que distam mapas
No encontro da sua morada
Ou de si mesmo.

Os sentidos pregam à alma
Mas a alma não os reconhece nem socorre,
Habita o céu.

E aqui deambulante
Sem que possa andar com os membros
Inferiores, gatinha nesta aprendizagem de pseudo-arte.

Como se não houvessem rostos,
Nem o próprio,
Apenas um vazio
Cheio de nada – que seja ele alguma coisa ainda.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A podridão do sonho


O Sonho é inconsciente
E de tão irracional
Trepa a barreira
E prega o Ser.

Chega ao cume
Realiza a fotossíntese
Desfaz-se na iluminação
E cresce sem cessar
Até morrer um dia.

O sonho evolui a mente;
Em consequência
O Sonho, ele mesmo
tem o dom de mudar mentalidades
Fá-las emadurecer e avançar
Rumo ao ideal (ou vacilar).

Como se o trasandar a consciência
Ou a falta dela,
Possui-se o tempo sonolento
Ainda que não houvesse distinção
Nem perdão
Apenas uma prisão – a de nós próprios.

Como se houvesse um céu
Com íman
E o rejeitássemos a toda a energia-ilusória,
O encontro era breve
Mas a perdição é mais convicta
Irreverente e desejada.

O que atormenta mais é a realidade deste sonho.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cega-surda-muda


Quando me beijaste
Concentraste em mim todos os beijos
Os que já deste
E até os que não deste, os que ficaram imaculados e reservados por aquele a quem chamaram tempo.

Reuniste todas as melodias
Para me ensurdecer os ouvidos,
Ou para me calar os lábios.
Talvez para que passasse a prestar-te só atenção a ti…

Egoísta! Ordenaste e fizeste-te o microfone e as colunas – tudo ao mesmo tempo – só para me prender o olhar vazio, a voz despida no íntimo do teu ouvido.

Beijaste-me nua
Assim me deixaste:
Cega-surda-muda.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Gotejar



Óh chuva gosto de te ouvir o soneto
De te cortejar a fórmula
De te envolver no perfume
De te ver embater contra o chão,
Molhando-o.

E voltar de novo a escutar-te a melodia
A embalares o meu peito
A inundares-me o espírito
Que carece, é ferido e frio – insípido.

Como um ciclo vicioso.
Como sou gente tenho vícios:
A paixão, o fumo tóxico, o suor e o teu.

O teu é de léguas e trévoas o mais omnipotente
Intocável, genuíno e impossivelmente transponível
Ou de interferência radioactiva.

Óh chuva por ti não se pode morrer
(Não se derrama uma única plácida gota vermelha)!

Quase te transpareces num maremoto,
Numa onda salvadora que me faz desprender de mim;
Assim, manténs-me fiel e sem equívocos.

És aquela por quem nem se derrama
Nem se afasta nem se decepciona.

Que não haja ionosfera entre nós
Eu odeio guarda-chuvas
Eles impedem-te de esbarrar nua
Contra mim.

Óh chuva o teu dogma é mudo e vazio
O que me sustem e ergue
Na passagem, no tropeçar dos dias.

Ainda soltas um terno sorriso
Esboçado no arco-íris,
Aí iluminas-me a calma
Refractas o meu coração em estilhaços – quebrados do mundo
E preenchidos por esta condição de Ser
Eu a tua serva.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

TeoAntropocentrismo


Presos entre o clássico e o mediano
Libertinos - agora.
Uma união de factos entre Teo e Antro
Centrismo.

Um jardim com céu, o Teo
Uma Terra molhada, lagrimada
Sentida, à mercê
E por isso pe(n)sada
No íntimo da Criação.

Tão divididos, tão vitoriosamente unidos
Têm a certeza que a atmosfera divide a Terra do Céu?
Entre cantigas de amor, escárnio e mal-dizer – mas
Enfim de livre-arbítrio
Reluz uma nova Era.

Dotados e somente limitados
Nesta descoberta do ser (centrista)

Desaparece e vem de mansinho
Dá meia volta e abarca
Nesta escada em caracol, nesta perdição
Paixão que é viver.

Por ti, por mim intercepta-nos
Confunde-nos algemados no limiar da noite.
Desaparece e regressa ao rejubilar da não noite
Ao amanhecer
Da invenção, da loucura.

É um amar louco
Por ser louco e pela consciência de que o É
É-o com uma única certeza – a da razão.

Paralela, inibida, pagã, em crescimento
Nossa vivacidade.

Expirando o mundo


O mundo era melhor antes de eu fumar
Era mais redondo antes de respirar a beata a fundo e
Jogá-la ao chão.

Eram menos umas quantas crianças
Que nunca apanhariam do chão
Curiosas não provariam.

Eram menos algumas que os cães (não diria burros, mas menos intelectuais)
Ingeriam.

Qual é a solução para contribuir para um mundo melhor?
1º Pegar um saco de plástico e guardar as beatas
Depois expô-las numa parede do quarto
Em quadrado – como a nossa inteligência – homenageando a Terra?
2º Deixar de fumar?

Se não engolir o ar que
Hora sim, Hora não levo à boca
Não havia aquecimento global!

Qual é a alternativa?
1º Absorver e engolir o fumo
Concentrando todas as minhas forças
Nos pulmões, de forma a não Expirar?
Assim morreria para fumar!
2º Largar o vício?