quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Gotejar



Óh chuva gosto de te ouvir o soneto
De te cortejar a fórmula
De te envolver no perfume
De te ver embater contra o chão,
Molhando-o.

E voltar de novo a escutar-te a melodia
A embalares o meu peito
A inundares-me o espírito
Que carece, é ferido e frio – insípido.

Como um ciclo vicioso.
Como sou gente tenho vícios:
A paixão, o fumo tóxico, o suor e o teu.

O teu é de léguas e trévoas o mais omnipotente
Intocável, genuíno e impossivelmente transponível
Ou de interferência radioactiva.

Óh chuva por ti não se pode morrer
(Não se derrama uma única plácida gota vermelha)!

Quase te transpareces num maremoto,
Numa onda salvadora que me faz desprender de mim;
Assim, manténs-me fiel e sem equívocos.

És aquela por quem nem se derrama
Nem se afasta nem se decepciona.

Que não haja ionosfera entre nós
Eu odeio guarda-chuvas
Eles impedem-te de esbarrar nua
Contra mim.

Óh chuva o teu dogma é mudo e vazio
O que me sustem e ergue
Na passagem, no tropeçar dos dias.

Ainda soltas um terno sorriso
Esboçado no arco-íris,
Aí iluminas-me a calma
Refractas o meu coração em estilhaços – quebrados do mundo
E preenchidos por esta condição de Ser
Eu a tua serva.

1 comentário:

  1. Gosto de ler o que escreves em grande parte porque é uma forma de te conhecer, de saber o que é importante para ti, o que te interessa, o que não te deixa indiferente. Mas tenho de reconhecer que, além disso, tu escreves muito bem, caramba, fico espantado com o teu à vontade com as palavras. Isso deixa-me um pouco de fora para te puder fazer críticas, mesmo posítivas: de maneira nenhuma eu sou capaz de escrever assim.

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