quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Esquecer ou Recordar ?


A maior parte de nós lamenta e contesta o esquecimento.
Agora pensa e lembra-te de alguns episódios caricatos da tua vida… Imagina o teu presente se eles não estivessem (pelo menos) parcialmente enublados lá ao longe.

Se a memória é uma das maiores faculdades humanas, então esquecer é o que nos permite erguer caminho para novamente viver, tropeçar, recordar e/ou esquecer.

Não ser capaz de esquecer pode ser tão ou mais perturbador do que não lembrar. Aparentemente apresenta-se como um paradoxo, mas o esquecimento é a condição sem a qual não poderíamos continuar a recordar. O acto involuntário de esquecer (involuntário porque quanto mais a consciência nos impele “Esquece”, mais nos lembra o coração) não é apenas e só uma realidade inerente à memória, mas, essencialmente, uma necessidade.

Imagina agora o objecto “telemóvel”. Se não fores “estranho” ocorre-te automaticamente um exemplo unificador da ideia de telemóvel. Existem pessoas com uma capacidade “extra terrestre” de memorizar; essas em vez de uma ideia de telemóvel, terão acesso a milhares de imagens de telemóveis, cada um com uma particularidade diferente. Agora pondera-te como um armazenador nato, um disco rígido atulhado de informação. Parece assustador não? Lembrar tudo como se fosse ontem: todas as palavras, todos os gestos e imagens, independentemente de estes se apresentarem como bons ou péssimos.

Se por um lado a lembrança faz de nós quem somos, há uma boa parte de nós (talvez a que não interessa) que se desvanece no tempo, que se desprende de nós.

Porque aquilo que fomos contribui inevitavelmente para o que somos e sem isso não seríamos nós próprios, apenas um deserto. Não passaríamos de uma redoma, mas sem flor. É que essa flor teria semente, só que a raiz não germinava e assim seria infértil, esquecida.

1 comentário:

  1. "Imagina agora..."
    Falar com o leitor na 2ª pessoa leva-nos a entrar no texto, assim "sabe" muito melhor :)
    Adorei, Maninha :D*

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